sábado, maio 31, 2008

EQM


O que falar de si quando se está alheio? Em certos dias, não me reconheço. Não sei onde fui parar. Parece que pra saber quem sou, tantas vezes tive que escapar de mim... Há pouco, senti a dor de ir embora, como se estivesse prestes a deixar o mundo. São só sensações... Sentimentos que destroçam a alma. Vou fechar os olhos, sentir o cheiro das flores, respirar suave e profundamente, pra abrir um horizonte... Faça-se a luz!

sábado, abril 05, 2008

Decifra-me...


DIANTE DE TANTOS RASCUNHOS NÃO POSTADOS, RESOLVI MODIFICÁ-LOS E PUBLICÁ-LOS (APROVEITANDO MOMENTOS PASSADOS DE INSPIRAÇÃO):

Ela, angustiada, olhava o mar. A imensidão azul terminava, invariavelmente, no enigma do horizonte. Pensou sobre seu futuro. Sobre incertezas. Tudo o que sabia naquele momento era que, por mais que tentasse (e tentou!), não lembrava do rosto dele. A fisionomia daquele com quem tinha partilhado tanta intimidade fugiu-lhe. Até quando? Talvez nunca lembrasse. Seria melhor assim? Não tinha esquecido nada do que aconteceu. Mas tudo vinha à mente sem esse rosto. Desfez-se de todas as fotografias dele. Sua memória acompanhou seu ato. Bloqueou todas as recordações daquele rosto para o qual tantas e tantas vezes olhou...

Encontrara Heitor, pela primeira vez, cinco anos antes. Circulava pelos corredores de uma exposição fotográfica com uma amiga da faculdade. Resolveu ir ao banheiro. Quando fechou a porta do reservado, percebeu um barulho estranho. Tentou sair. Em vão. A fechadura tinha quebrado. Foi tomada pelo desespero. Suou frio ao perceber que não tinha como sair dali: as paredes laterais iam quase até o teto e a porta de vidro não suportaria seu peso.

- Malditos arquitetos! - praguejou.

Lembrou que tinha deixado a bolsa com Suzana e não poderia usar o celular. Desesperou-se ainda mais porque o espaço cultural iria fechar dali a pouco tempo. Respirou fundo e gritou. Com todas as suas forças. Nada! Continuou gritando, por um tempo que pareceu eterno. Ouviu uma voz, bem longe, perguntar: - Posso entrar? Ela respondeu sim, pedindo ajuda. Um homem viera para ajudá-la. Ela nem pensou no inconveniente desta situação. Apenas queria sair urgentemente dali...


domingo, março 09, 2008

Insônia

Suportar o mundo, perseguindo a alegria da infância. Colher cinzas, alimentando flores. Vestir mortalhas, enquanto gera. Penar por culpa, parindo novos calafrios. Alma renascida a cada golpe. Peito que regela para voltar a abrasar, inteiro, pulsante e transbordante. Os extremos do caminho reforçam: depois da derrota, recompõem-se as energias. Pela coragem, move-se o destino.

sábado, março 01, 2008

Cheiro de orvalho...

Emoções? Temos muitas pela vida. Tantas que sequer lembramos de todas, inclusive, por uma questão prática: a memória é seletiva, não comporta tudo o que vivemos! Imagine fazer um retrospecto da vida, lembrando de absolutamente tudo. Seria infindável... Dificultaria até a organização do raciocínio. Lembramos do que nos marcou muito. Seja algum de bom, ou de ruim. Ontem, não sei por que motivo, ocorreu-me uma lembrança que há tempos eu não tinha. Uma reminiscência que talvez tenha algo a ver com uma mensagem em que Ebinho, velho amigo da infância, aludia a uma foto do álbum (da minha página do orkut), relembrando os idos dos anos 70, quando, ainda em muito tenra idade, viramos vizinhos e amigos-irmãos, em Garanhuns. Esses momentos trazem muita emoção: vivenciamos, de longe, um tempo que não volta mais e pensamos em quanto tempo ainda nos resta... Mas, voltando à lembrança que me veio à memória ontem, revivi aquela sensação de quando voltei a Garanhuns, pela primeira vez, depois que tinha ido morar em Recife. Foi uma sensação única e uma emoção da qual não esquecerei. Aconteceu de supetão, no final dos anos 80, quando uma tia, passou na minha casa e fez o convite pra irmos fazer um passeio. O destino final foi a minha cidade natal, onde passei os bons e maus momentos da minha infância. A volta trouxe lágrimas aos olhos, incontrolavelmente. Elas rolavam por si. Algo incomum pra mim, que sempre evitei chorar em público. Tinha vergonha... Era quase um tabu. Sinal de derrota, ou coisa assim, que o meu orgulho (ainda infantil) aprendeu a controlar... Isso era tão forte que, certa vez, houve um acidente na vila em que eu morava que resultou na morte de um menino. Ele era muito reservado, quase não brincava com a gente e vivia sempre quieto, pelos cantos. Quando ele estava, timidamente, começando a se enturmar, veio o dia fatídico: seu irmão mais velho jogou thinner na churrasqueira e o fogo o atingiu. Lembro de ter ido ao velório com minha mãe (no interior, os velórios aconteciam em casa mesmo). A parte mais comovente foi quando retiraram uma toalhinha que cobria o seu rosto. Era pra mim o primeiro assombro da morte. Chorei durante a semana inteira que se seguiu. Sempre atrás do sofá de casa, pra que ninguém testemunhasse minhas lágrimas. Essas lágrimas, tão contidas, transbordaram no meu retorno a Garanhuns. Saíram da alma. Compuseram uma emoção profunda, visceral, primordial... Ali era o lugar que fazia parte de mim, pra onde eu não voltaria jamais, a não ser nas minhas memórias: naqueles quintais onde reinávamos absolutos, terreno das brincadeiras e da imaginação, refúgio que os adultos não compreendiam e não poderiam invadir; da sensação de liberdade, ao correr pelo meio da rua, no parque, na praça, no contato com a areia (primeira transgressão); no cheiro de orvalho, presente em quase todas as manhãs... Ah, o cheiro de orvalho... Este é particularmente marcante. Quando comecei a estudar na Federal, sempre passava, de ônibus, na frente do prédio da Sudene, onde uma fonte irrigava o mato que, por isso, exalava um cheiro parecido com aquele do orvalho. Automaticamente, eu fechava os olhos e, simbolicamente, retornava a Garanhuns, porque a memória é ativada pelos sentidos e, como dizia Calvino, nas "Cidades Invisíveis", na fala do veneziano Marco Polo: "cada vez que faço a descrição de uma cidade, digo alguma coisa sobre Veneza", o que me permite dizer que, na minha contemplação sobre Recife, eu procurava a minha cidade, nas entrelinhas. Pra terminar, um pouco mais de Calvino: "- As imagens da memória, uma vez fixadas pelas palavras, apagam-se - constata Polo. - Pode ser, Veneza, que eu tenha medo de perdê-la de uma vez se a descrevo. Ou pode ser, falando de outras cidades, que eu já a tenha perdido pouco a pouco". O título inicial deste post seria "Lágrimas". Algumas vieram enquanto escrevia. Mudei de idéia. Preferi o orvalho: hoje moro por trás da Sudene. Retorno simbólico à fonte... ao útero.

sexta-feira, fevereiro 22, 2008

Sobre praias e ogros...

No fim-de-semana pós-carnavalesco, eu e meu consorte resolvemos curar a ressaca da folia (mais minha do que dele) na praia. Acordamos cedo, providenciamos umas cervejas, uns petiscos, os kits e brinquedinhos de João Victor (no plural, porque a presença de criança amplia consideravelmente a bagagem). Tudo pronto, colocamos o "pé" na estrada e fomos pro litoral sul, meio outsiders, pra fugir da fúria de Boa Viagem... Decidimos ir pra Enseada dos Corais, cuja tranqüilidade faz jus ao que uma praia deve inspirar... Porém, como chegamos mais tarde do que pretendíamos, fomos pra Xaréu. Só iríamos pra Enseada quando o sol baixasse porque, mesmo tendo levado cadeiras e guarda-sol, o pequeno (e mui branco) João não iria agüentar o mormaço. Final de tarde chegou, lá fomos pra o nosso destino previsto. De repente, a praia quase deserta, aquele marzão na frente, aquele tapete de areia pra correr com João. Parecia propaganda de refrigerante (aliás, de refrigerante não porque, apesar de quase sempre serem ambientadas em belas praias, sempre tem meio-mundo de gente, portanto devo dizer: propaganda de plano-de-saúde-família). Munidos de pás, baldes e outros apetrechos infantis, fomos brincar na areia. Como as crianças têm a incrível capacidade de transformar o inusitado em algo absolutamente trivial, a certa altura, sinto aquele cheirinho-denúncia, aquele alerta de que "havia algo de podre no reino da Dinamarca" ou, mais precisamente, naquele bumbum branquelo do meu filhote... Problema número um: ele só estava de sunga (obviamente porque não dava pra deixá-lo de fralda descartável na praia); Problema número 2: eu não havia lembrado de colocar lenços umedecidos na volumosa bagagem (AAAAAAAAAAhhhhhhh!); Problema número 3: onde colocar aquele "lixo"? No lixeirinho do carro? De jeito nenhum! Bem, perdoem-me os ambientalistas (Sheilinha que não me ouça...), mas tive que enterrar os dejetos mal-cheirosos (a redundância vale quando se trata de cocô de criança!) e ainda ir lavar a sunga e a bunda de João no mar. Que cena! O pior foi ter que fazer as duas coisas, quase ao mesmo tempo, diante de um mar bravio. A sunga escapou da minha mão e lá vou eu, correndo, com João no braço, pra recuperá-la. Iemanjá deve ter rido um bocado, se não tiver ficado muito irada com a sujeira que coloquei na casa dela... Certamente, não vou esquecer este dia que, apesar da merda (desculpem o trocadilho), foi muito divertido! Desde a chegada à praia, demos boas gargalhadas com João. Quando estávamos indo pra Xaréu, por Itapoama, fiquei em dúvida se deveria pegar a estradinha da direita ou esquerda. Pedimos informação a um transeunte: - "Por favor, onde fica Pedra de Xaréu (como estava escrito em placa bem anterior àquele trecho)?" Ele indicou o caminho e seguimos. Segundos depois, João dispara: - "Pedra de Shrek! Rá-rá-rá!" Conclusão: pra ele, finalmente, descobriu-se onde morava aquele ogro cheio de graça...

domingo, fevereiro 17, 2008

Água

Quando quis ser a chave dos seus olhos
Vislumbrei deleites.
Apaguei todos os pontos de fuga.
Desenhei no horizonte.
Percorri seus signos,
à procura de pistas,
do que restara de mim.
A brasa consumiu-se.
O inverno irrompeu,
apagando os caminhos.

Um bloco a mais...

Uma maré de gente. Espumas coloridas. Brilhos que enchem os olhos. Lirismo que mareja os olhos. A embriaguez escorrendo no suor. O calor que abraça, abrasa e enche o peito com uma lufada de brisa marinha, lá no Alto da Sé, com a vista das Marins. O carnaval vai e volta, preenche a memória, recorda o sorriso, a infância e a beleza do que liberta a alma. O último regresso viaja no ar, evocando os carnavais vindouros: "Falam tanto que meu bloco está/dando adeus pra nunca mais sair/e depois que ele desfilar/do seu povo vai se despedir/no regresso de não mais voltar/suas pastoras vão pedir/ Não deixem não/que um bloco campeão/guarde no peito a dor de não cantar/um bloco a mais/é um sonho que se faz/nos pastoris da vida singular/É lindo ver, o dia amanhecer/com violões e pastorinhas mil/dizendo bem/que o Recife tem/o carnaval melhor do meu Brasil. "(Getúlio Cavalcanti)

terça-feira, fevereiro 05, 2008

Segura o caboclo!

Neste carnaval, brinquei pouco. As circunstâncias não foram favoráveis à folia de Momo. Não pra mim. Isso não significa que tenha sido muito ruim. Não foi como eu gostaria. Mas, posso dizer que as poucas horas carnavalescas tiveram seus momentos inesquecíveis. Uma delas foi encontrar uma cobra em pele de coelha nas ladeiras de Olinda. A coelha era laranja! Aliás, Eva ganharia, de longe, o prêmio originalidade na fantasia, nos dois momentos em que a encontrei neste carnaval. Na primeira vez, ela estava com uma fantasia, de inspiração chinesa, cujo nome não lembro porque, pra lembrar, era preciso não ter bebido nada, o que não era o meu caso. Inclusive, se ela bebesse muito não iria lembrar o pomposo título, atribuído por ela, ao seu look carnavelesco. Encontrar com Ana, a romana, também foi especial, apesar dos muitos desencontros entre nós nestes dias. Ana é Ana. Alegre ou triste, ela é linda, sempre. Mas, pra mim, nada valeu mais do que descobrir um caboclo loiro e faceiro como ele só. Estava eu, no Recife Antigo, assistindo ao show de Antúlio Madureira, dançando muito e feliz da vida. Meu pequeno filho começou a ficar impaciente, porque o dragão do "Eu acho é pouco" tinha sumido das vistas dele. Ele ficou fascinado pelo dragão. Só sossegou depois que entramos dentro do bicho (medo nenhum...). A certa hora, ele resolveu pedir "piiito". Onde eu iria arrumar um bendito pirulito por ali? Aliás, o ideal era nem conseguir o dito cujo porque estou relutando em ceder aos caprichos infantis do meu loirinho. Ao invés de pirulito, ele ganhou uma sombrinha de frevo. A felicidade foi ainda maior porque esse tinha se tornado o sonho de consumo durante o carnaval. Pouco minutos antes, ele tinha se agarrado com a sombrinha de uma menininha incauta que passava perto e deu o maior trabalho pra convencê-lo a devolver (as crianças não entendem o conceito de propriedade alheia). Depois de Madureira, veio a apresentação do maracatu rural, começando pelo tradicional Cruzeiro do Forte. João Victor, que até então estava ensaiando uns passinhos de frevo, começou a prestar atenção no ritmo. Daqui a pouco, estava ele criando sua própria coreografia: na hora da "loa", ele colocava a sombrinha no chão e se afastava um pouco, assim que começava a percussão, ele corria, pegava de volta o útil adereço e começava a pular freneticamente. Fiquei encantada com a cena! O danadinho é da farra! Aliás, ele adora percussão. Dá pra perceber pelas suas músicas preferidas. Bom gosto ele tem: gosta de Tom Zé, Vanessa da Mata, Maria Rita, Chico Science, Arnaldo Antunes e enlouquece ao som do frevo... Outro dia, eu estava indo trabalhar, ouvindo o cd "Paradeiro" e quando vejo, meu filho cantarolava a música "na massa", bem no clima, na maior animação. Percebendo esta veia percussiva do pequeno, o pai dele estava pretendendo presenteá-lo com uma alfaia. Pensei imediatamente: é o golpe de morte no silêncio que, definitivamente, não tem freqüentado a minha casa... Mas, quem sou eu para refrear a arte?

domingo, fevereiro 03, 2008

Um novo nem tão novo assim...

Considerando um certo misticismo que trago dentro de mim, resolvi mudar o nome deste espaço, na firme expectativa de que um novo nome, pra um velho blog abandonado, reacenda meu hábito, não tão assíduo, de escrever. Às vezes, tenho uma certa resistência em escrever, do mesmo jeito que relutei em decidir fazer psicoterapia. Neste último caso, fui atropelada por alguns acontecimentos nefastos que não me deixaram outra alternativa. Sempre negligenciei minhas angústias, minhas dores, meus problemas... Na verdade, tendia a minimizá-los e, "jogá-los embaixo da cama", pra tentar resolver depois... Um dia, não cabia mais nada embaixo da cama, tudo começou a escorrer, desabar, rolar pela minha cabeça, sem controle... Não tive escolha: chego eu no consultório com um monte de nós pra desatar, buscando o tão almejado auto-conhecimento. Primeira descoberta: nas primeiras sessões, descobri que não sou paciente (!!!!!!!!!!!!!) . Eu jurava que, com um pouquinho de esforço, eu poderia ser budista. Não era nada disso... Percebi que conhecer a si próprio é extremamente doloroso. A diferença é que é uma dor guiada (digamos assim). Um processo "cirúrgico" (sem anestesia, diga-se de passagem) que vai impedir complicações futuras e deixar uma cicatriz só.
Provavelmente, como escrever também é um exercício de auto-conhecimento, eventualmente, adio as dores. Inclusive porque em certas horas, o silêncio expressa mais fidedignamente os estados de espírito (sombrios ou não). De volta à labuta verbal, vou tentar registrar esse caminho, apreciar as luzes interiores, as esperanças, as preciosidades, as confissões, os bálsamos, as floras que contenho. Certa vez, recebi uma mensagem de alguém muito querido, com quem gostaria de ter mais contato. Era uma frase de D. Hélder que dizia: "Se as pessoas te pesam nos ombros, leve-as no coração." Palavras muito marcantes que tenho tentado transformar em um dos lemas da minha vida. Hoje, outra mensagem trouxe mais reflexões. Enviada por Lu, a diva menor (termo relacionado a tamanho físico mesmo, porque é uma das baixinhas mais charmosas que conheço, de alma grande e bela), ei-la (como diria Veri):
"a água se ensina pela sede;
A terra, por oceanos navegados;
o êxtase, pela aflição;
A paz, pelos combates narrados;
O amor, pela cinza da memória
E, pela neve, os pássaros".
(Emily Dickinson)
A vida segue, deixando seus rastros de beleza e dor, transformando tudo em volta. A "cara" do blog, assim como o nome, mudou. Achei que não faria sentido montar um novo blog mas modificá-lo, assim como o tempo fez comigo, desde que inaugurei este cenário.