terça-feira, novembro 28, 2006

A morte do coiote

Aos assíduos ou antigos espectadores do desenho animado "Papaléguas", lamento informar: o coiote morreu! Não pude anunciar a morte da Rê Bordosa mas, em primeira mão, posso alardear a notícia acima. Depois de tantos tropeços, tantas armadilhas mal-sucedidas, tantos reveses na caçada implacável ao Papaléguas, o coiote passou dessa pra outra, não necessariamente melhor. Lugar-comum tornou-se a identificação com o desajeitado coiote, afinal, muitos se solidarizaram ante a sua saga contra o ágil, esperto e cínico protagonista de penas e pernas velozes. Talvez alegoricamente, para os corações de esquerda, o coiote representasse o anti-herói, o avesso do ideal de sucesso capitalista, cujos planos nunca deram certo, nem sequer chegaram perto do êxito. Aos fãs do finado coiote, quero dizer que, quanto ao Papaléguas, não nutro exatamente simpatia, nem o acho tão esperto... Na verdade, o coiote é que sempre foi muito burro! E não estou aqui defendendo que os burros devam morrer ou ser exterminados. O coiote era previsível, mudo, apático e estúpido: sabia que jamais iria alcançar o Papaléguas na corrida e muito menos compensar a limitada velocidade com engenhosidade. Logo que ia executar um plano, logo deixava pistas visíveis ao seu arquiinimigo, que só precisava correr, rir e fazer um irritante "bi-biiii" (alíás, ele emite som). Em suma, o coiote era um fracassado, correndo atrás de vãs esperanças que nunca o levariam a lugar nenhum...
Em tempo, aviso àqueles que ainda não morreram de susto ou não inundaram a tela de lágrimas, que o coiote que morreu não foi aquele do desenho animado, foi outro, bem parecido, a quem são dirigidas as palavras acima. Morreu no sentido figurado, no terreno do subjetivo, do simbólico, onde, felizmente, existe um idiota a menos...

terça-feira, novembro 21, 2006

Cerveja sem álcool

Cá estou eu de volta, após longa ausência. Imaginem-me vocês, com espanador em punho, eliminando moscas e possíveis teias de aranhas presentes no ambiente deste blog. Confesso acreditar que, para ser uma blogueira assídua, três coisas, pelo menos, são importantes: disciplina pra administrar eficientemente o tempo (que não é uma das minhas grandes qualidades); disposição pra varar madrugadas, elaborando posts (algo difícil pra mim, uma declarada amiga de Morfeu) e, por fim, inspiração ou melhor, aquele mote que representa o "pontapé inicial" na hora de criar o post. Como estes três requisitos nem sempre se conjugam, tenho deixado a desejar nas minhas incursões bloguíticas.
O "mote" desta semana, sem nenhuma alusão a Gustavo Krause (por favor!), surgiu de minha visita ao blog de Marconi Leal (http://marconileal.zip.net: visitem e divirtam muuuuuuito!) , colega do convívio social e etílico que por ora está morando em São Paulo e cada vez mais surpreendente na "arte" de blogar. No seu último post, "Cem metros rasos com ressaca", ele imaginou uma competição alcoólica, engraçadissíma e trágica pela dimensão da bebedeira. Ao ler tão criativo delírio (que deve ter sido parido sob efeito de bebida ou outra coisa afim), logo me ocorreu que, num campeonato deste cabe o chavão: "o importante não é ganhar, é competir", pois logo me imaginei participando do torneio e rememorando ressacas homéricas, indescritíveis e intangíveis pra quem não costuma beber. Das ressacas obviamente não sinto falta mas, desde que adentrei o mundo da gravidez e da maternidade, nunca mais tive o prazer de pedir em alto e bom som: "-Garçon, por favor, uma cerveja bem gelada!". Agora, tenho que me contentar com uma singela pergunta: "Vocês vendem cerveja sem álcool?". E até a dita cerveja sem álcool (e sem muita graça) tenho evitado. Porque a bicha dá aquela vontade de mijar, depois de um tempo, começa a encharcar e não dá nem um formigamentozinho ou algo próximo de uma leve embriaguez (apesar de um teor mínimo de álcool, que vai de 0 a 1,5%).
Embriaguez que facilita a comunhão, porque beber é eminentemente social. Embriaguez que libera pensamentos, palavras, expressões e afeições. Claro que sem bebida é possível, guardadas as proporções e ocasiões, vivenciar tudo isso mas, aquele torpor, aquele relaxamento que o álcool provoca, paradoxalmente, acaba tornando tudo mais intenso... Não estou aqui fazendo apologia às bebidas alcoólicas mas afirmando categoricamente que uma cerveja que inclui o "sem" é "sem" mesmo: sem graça, sem leveza (aquele "flutuar" gostoso"), sem a intensidade de tudo o que envolve uma mesa de bar e, pra não dizer que tudo é ruim: sem ressaca!