sábado, agosto 19, 2006

Carregando uma melancia

Outro dia fui ao mercado comprar uma melancia pra João Victor. Uma melancia fechada porque os comerciantes insistem em cortá-la sem lavar, portanto, não é seguro comprá-la em pedaços. A dita fruta era pra fazer um coquetel receitado pela pediatra: a água da melancia substitui o uso do açúcar porque já é adocicada, deve ser misturada com outras frutas e batida no liqüidificador. Provei... Fica uma delícia! Não sei se as outras mães fazem isso mas tudo que dou pro meu filho, acabo experimentando antes. Talvez seja um indício de solidariedade, ou síndrome de cobaia. Depois fico imaginando como o paladar das crianças é diferente: a maioria das papinhas e sopinhas não seria aprovada por um apetite mais maduro. Voltando à melancia, primeiro problema: carregar a dita cuja que pesava quase 7 kg e foi a menor que achei. Aproveitei pra fazer outras compras pra João (adoro os sabonetes líquidos pra bebê), levar umas coisinhas que estavam faltando em casa e peguei um táxi pra voltar, afinal seria impossível voltar a pé com aquele pacotão. Segundo problema: lavar a grandiosa e pesada fruta que, ensaboada, fica ainda mais difícil de manusear e de agüentar o peso. Terceiro problema: o coquetel de João não demanda tanta melancia assim, são apenas 100 ml de suco pela manhã e levando em conta que melancias são altamente perecíveis, temos que fazer o delicioso e saudável esforço de comer muitos pedaços da suculenta fruta. Imaginando toda a cena, à noite, lembrei que ao retirar a etiqueta do supermecado, antes de lavar a melancia, verifiquei seu peso que coincidia com o de João Victor à epoca: 6,550 kg. Conclusão: ando carregando uma "melancia" com certa freqüência, também pesada, embora mais anatomicamente adaptada pro transporte e imensamente mais deliciosa e imprescindível...

sexta-feira, agosto 18, 2006

A culpa não é das formigas

Na minha tenra infância, tinha o hábito um tanto sádico de matar formigas: grandes, médias, pequenas, todas eram alvo dos meus pés e da minha pueril perversidade (Freud já dizia que crianças não são exatamente inocentes). Costumava também fazer experiências inusitadas com os ditos insetos: misturava plantas dos mais variados tipos e dava a beberagem pra algumas formigas confinadas numa caixa de sapatos. Pretendia descobrir a fórmula do crescimento e em algum momento, deparar-me com uma formicidae hymenoptera gigante, dando assim minha contribuição à ciência. Hoje imagino: qual seria a utilidade de uma formiga gigante?
Numa outra fase da infância, alguém resolveu me dizer quão cruel era matar formigas, já que as ditas padeceriam em enorme dor. Bem me lembro que as coitadas pareciam se contorcer e mal conseguiam andar na tentativa infrutífera de fuga. Comecei a partir daí a sentir culpa, pensar que "papai do céu" iria me castigar, em quantas famílias de formigas eu teria prejudicado pela minha ação impensada de pisá-las ou espalmá-las cruelmente. Ontem lendo uma matéria sobre a dor, descobri que as formigas não sentem dor porque seu comportamento é geneticamente programado. As plantas, fartamente utilizadas nas minhas "fórmulas" também não sentem dor porque não têm um comportamento que precise ser modificado. Refleti sobre o quanto meu remorso foi em vão.
Já adulta, algumas atitudes minhas vieram acompanhadas de culpa, remorso, tristeza por terem sido inconseqüentes e ferido sentimentos alheios. Muitas vezes revivi aquelas sensações da infância, relacionadas aos eventuais formicídios. Mas a culpa não foi invenção das formigas. Sentimento cruel que por vezes dilacera, exacerba nossa autocrítica. Importante somente pra definir os limites da nossa ação sobre outrem. Sensação que podemos alimentar excessivamente, trazendo pra nós muita dor. Aquela que não atinge as formigas...

quinta-feira, agosto 17, 2006

Pra falar de amor

Ontem peguei uma carona com uma amiga, pra ir ao trabalho. Na nossa conversa sobre filhos e relacionamentos, ela falou algo que achei muito bonito, pela simplicidade e leveza: que quando pensa em se separar do marido, desiste porque imagina os dois juntos no futuro, velhinhos, revivendo histórias e sorrindo. Grande percepção a dela: porque o relacionamento vale não somente por tudo que foi vivido junto mas principalmente pelo que ainda virá. Isso é amor!
Sobre relações mais difíceis de manter do que a dela, lembro que muitas vezes estamos apegados a um relacionamento ruim, monótono, distante e terrivelmente chato mas, quando pensamos em jogar tudo pro alto, então vem a sensação que estamos abdicando de um patrimônio de vivências que sempre vale a pena salvar, como se o passado redimisse a chatice do presente ou como se as lembranças fossem inválidas em caso de separação. Difícil o convívio, hein? Oh, terreno de contradições, impasses. No final, vai-se o relacionamento, o amor fica...

No Bosque da Maternidade

Nunca fui de fazer diários: sempre começava e depois desistia. Mas a idéia de um blog me seduziu... aqui posso escrever sobre o que há de importante na minha vida, particularmente sobre João Victor, meu filho, o maior de todos os meus amores.
Ganhei um diário de bebê antes dele nascer pra registrar seus momentos mas, no corre-corre dos meus primeiros e atrapalhados dias de mãe, não consegui dar continuidade, escrevendo todos os dias. Entre registros diários, há algumas lacunas que certamente estarão na minha memória, embora não de forma cronologicamente organizada. Outros episódios, escreverei aqui, onde um dia ele poderá ler e comentar, emocionar-se e viajar no tempo.
Parece piegas dizer mas lá vai: a gente só sabe a intensidade e a leveza de ser mãe quando colocamos um filho no mundo. Todo o resto se torna um tanto menos importante. Continuamos "grávidas" depois do parto, gerando um amor que só cresce, cresce, cresce como a barriga outrora crescia. Meu João, bem-vindo ao meu coração e ao mundo encantado.