
Essa fotografia é intrigante. Quando a vi, pela primeira vez, fiquei me perguntando se era montagem. Ela parece tão paradoxal... Refletindo sobre essa imagem, percebi que não é tão contraditória quanto parece ao primeiro olhar. Nas fotos da Revolução Cubana, mostrando Che e Fidel desfilando vitoriosamente em Havana, não raro aparece ao fundo uma propaganda da Coca-cola. Era o fim dos tempos americanófilos na ilha e as imagens congelavam esses momentos para a posteridade. Segundo Walter Benjamim, a máquina fotográfica consegue aprisionar a realidade, esquadrinhando-a e modificando-a. Numa fotografia, é possível selecionar partes de um todo, ocultando o resto e criando novas impressões. A máquina faz o que o olhar humano não pode: ver em close, sem a proximidade física; congelar a imagem (enquanto nós vemos em movimento) ou simular um movimento. Enquanto uma pintura é eminentemente subjetiva, a fotografia propõe objetividade, embora seja "lida" a partir da pessoalidade de cada um. Imagens apelam ao olhar e esse sentido deflagra o desejo do consumo. Nos dias quentes, ver alguém saboreando um refrigerante pode dar uma sede irresistível... Aqui, o problema menor é admitir que Che Guevara tomou Coca-cola. Mais difícil é aceitar que ele tenha se tornado um ícone do consumo capitalista, sendo reproduzido aos montes em camisetas e outros souvenirs, pelo mundo inteiro. Esvaziado de sua trajetória histórica, de seu teor revolucionário. Como dizia um professor meu, ninguém vai estampar Fidel Castro numa camisa e colocá-las à venda em lojas de departamentos. Ele continua como mentor e condutor da Revolução, enquanto Che foi "derrotado", morreu defendendo um idealismo e um coletivismo que não existem mais (dimensões que, simbolicamente, a Coca-cola também contribuiu para matar). Hoje a maioria dos adolescentes prefere um tênis Nike, um ipod ou um Mclanche à idéia de salvar o mundo... Triste fim, Che...
3 comentários:
Gostei, Ed!
Vc conseguiu interpretar a imagem de forma atual e poética. Como sempre!
Faço apenas uma ressalva: acho que o Fidel Castro tb (infelizmente), em algum momento futuro (não tão longe agora), estará passível deste "uso capitalista" da imagem. Walter Benjamim, definindo perfeitamente o que é a fotografia, diz que ela nos possibilita "criar novas impressões".
Vai escrever bem assim em Petrolina!!!
Parabéns Ed, belo post!
Sem falsa modéstia, gostei muito do post! Valeu, amigos, pelas visitas e respectivos comentários.
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