sexta-feira, janeiro 06, 2012

Coca-cola é isso aí...


Essa fotografia é intrigante. Quando a vi, pela primeira vez, fiquei me perguntando se era montagem. Ela parece tão paradoxal... Refletindo sobre essa imagem, percebi que não é tão contraditória quanto parece ao primeiro olhar. Nas fotos da Revolução Cubana, mostrando Che e Fidel desfilando vitoriosamente em Havana, não raro aparece ao fundo uma propaganda da Coca-cola. Era o fim dos tempos americanófilos na ilha e as imagens congelavam esses momentos para a posteridade. Segundo Walter Benjamim, a máquina fotográfica consegue aprisionar a realidade, esquadrinhando-a e modificando-a. Numa fotografia, é possível selecionar partes de um todo, ocultando o resto e criando novas impressões. A máquina faz o que o olhar humano não pode: ver em close, sem a proximidade física; congelar a imagem (enquanto nós vemos em movimento) ou simular um movimento. Enquanto uma pintura é eminentemente subjetiva, a fotografia propõe objetividade, embora seja "lida" a partir da pessoalidade de cada um. Imagens apelam ao olhar e esse sentido deflagra o desejo do consumo. Nos dias quentes, ver alguém saboreando um refrigerante pode dar uma sede irresistível... Aqui, o problema menor é admitir que Che Guevara tomou Coca-cola. Mais difícil é aceitar que ele tenha se tornado um ícone do consumo capitalista, sendo reproduzido aos montes em camisetas e outros souvenirs, pelo mundo inteiro. Esvaziado de sua trajetória histórica, de seu teor revolucionário. Como dizia um professor meu, ninguém vai estampar Fidel Castro numa camisa e colocá-las à venda em lojas de departamentos. Ele continua como mentor e condutor da Revolução, enquanto Che foi "derrotado", morreu defendendo um idealismo e um coletivismo que não existem mais (dimensões que, simbolicamente, a Coca-cola também contribuiu para matar). Hoje a maioria dos adolescentes prefere um tênis Nike, um ipod ou um Mclanche à idéia de salvar o mundo... Triste fim, Che...

3 comentários:

Márcio Costa disse...

Gostei, Ed!
Vc conseguiu interpretar a imagem de forma atual e poética. Como sempre!
Faço apenas uma ressalva: acho que o Fidel Castro tb (infelizmente), em algum momento futuro (não tão longe agora), estará passível deste "uso capitalista" da imagem. Walter Benjamim, definindo perfeitamente o que é a fotografia, diz que ela nos possibilita "criar novas impressões".

Sidclay disse...

Vai escrever bem assim em Petrolina!!!

Parabéns Ed, belo post!

Edlúcia disse...

Sem falsa modéstia, gostei muito do post! Valeu, amigos, pelas visitas e respectivos comentários.