sábado, outubro 07, 2006

Entre números e lembranças

Hoje, folheando o jornal de amanhã, deparei-me com uma matéria intitulada "Sim para o casamento", cujo conteúdo destacava dados recentes do IBGE, sobre um aumento de 7,7% no número de uniões conjugais em 2004, em relação ao ano anterior. Sobre as separações, essas teriam caído 7,4%, assim como os divórcios, cuja redução teria sido de 3,2%, ainda comparando-se os anos de 2004 e 2003. Estatísticas, no minímo intrigantes, que parecem ter vindo de outro planeta, porque no meu (ainda que modesto) círculo social separações tem sido uma constante desanimadora. Vale registrar aqui a exceção: Ceça e Sérgio, casados por convicção, cúmplices e extremamente criativos e mutuamente respeitosos no tocante à relação, o que justifica uma união estável entre tantas outras que desmoronam. Bom exemplo de que o amor nem sempre envelhece e pode manter as pessoas unidas.
Ironicamente, encontrei esta matéria na semana em que estou me separando, como tantos outros casais, de comum acordo e com aquela sensação desagradável que a decisão apenas formaliza uma situação já posta: a indisposição para manter a relação, a desistência de negociar e ceder, enfim, o fim, já sem o calor das lágrimas desesperadas, sem os arrebatamentos, sem maiores discussões, sem emoção... Triste pensar que tudo se torna banal, que aquilo que outrora parecia interminável ou inolvidável (aludindo a um poema de Neruda de que gosto muito) simplesmente terminou... Na verdade, vamos nos dando conta de que há muito já acabou... Consolo é pensar que a vida é feita de fins e recomeços. Que a dor de hoje poderá ser a superação de amanhã. Um novo começo, uma nova vida, um filho, algumas cicatrizes e muitas lembranças. Saldo de um casamento. Mais um dado estatístico.

2 comentários:

Anônimo disse...

obrigada pela parte que me toca. recomeçar...é uma boa palavra, prefiro começar...dá uma idéia de algo novo, inédito, ainda por se desvendar. Que vc comece com um grande amor por si mesma, este sim não pode, nem deve sair da pauta.bjs

Anônimo disse...

Diria que, mais do que fins e recomeços, a vida é uma sucessão de "novos começos". Estamos sempre começando algo novo e não necessariamente porque algo tenha acabado. Utilizando rasteiramente a teoria da renovação/transformação da energia, nada "termina". Apenas continuamos começando. Apenas escolhemos outros caminhos. Nâo que eu esteja fazendo uma elegia pelas permanências, mas acho muito simplista achar que as coisas "acabam". Se somos parte ou muito do que fazemos e vivemos e consideramos que essas partes acabam, estamos dizendo que estamos nos mutilando. Fico com as palavras do comentário anterior quando diz que é melhor começar do que recomeçar. Recomeçar é voltar ao zero. Para começar não se precisa voltar nada. Começamos de onde estamos, de como somos. Que fiquem as lembranças, os números, as lições, as cicatrizes. Mas olhemos para os começos, pois sempre estaremos começando...