domingo, setembro 23, 2012

Trilhando sonhos


Quando a gente pensa em sonho, geralmente associa à ideia de desejo, de realizar algo no futuro. Andei pensando no quanto o sonho é cotidiano. Não só porque nos move a tentar concretizar o que queremos, dia após dia. Sonhar é presente. Ontem, tive uma experiência onírica que se desdobra  nesse texto.  Seguinte: uma amiga convidou-me para dar uma aula no curso de Licenciatura em Música, como estratégia de diversificar os olhares e as discussões na sua disciplina (História da Arte). Fui “escalada” para apresentar o conceito de BELEZA, dos gregos à arte moderna. Pouco antes do início da aula, seguíamos pelos corredores, combinando os últimos detalhes. Por dentro, aquela expectativa (que hoje eu acho bem gostosinha,) de saber como seria a receptividade da turma. Tudo indo normalmente, até que entrei na sala (bem moderna, diga-se de passagem), encontrei poucas pessoas e uma surpresa: um aluno tocando piano, acompanhado por  outro que tocava uma flauta doce.  O que para os alunos era apenas mais um ensaio significou, para mim, uma viagem sensorial. Começando assim, a aula fluiu bem, como o ritmo da música. Não tinha como falar de beleza, sem discorrer sobre os sentidos (particularmente visuais) e emoções que a envolvem.  A certa altura, eu estava falando sobre as rupturas da arte moderna, cuja proposta enfatiza não propriamente a beleza, mas a arte como abstração, como contestação, como liberdade criativa, reflexão/inflexão sobre o mundo e essencialmente, como subjetividade.  A precisão das formas, tão valorizada pela arte clássica, dava lugar às vanguarda s modernistas. Sinal dos tempos, da fragmentação, da confusão, do desnorteamento  anterior e pós-guerra. Segundo Freud, “o homem já não era senhor dentro da sua própria casa”, em alusão aos mistérios quase insondáveis do inconsciente. O “mapeamento” freudiano da psique humana daria vazão ao Surrealismo. Imagens distorcidas, cenas mirabolantes, figuras desconexas remetem ao mundo dos sonhos, onde o nosso inconsciente se revela.  Ao conciliar o sono, nada é impossível, nada é absurdo, nada é infundado. Na verdade, sonhar é um laboratório emocional. Podemos estar diante de ameaças com as quais nunca iremos nos deparar, desenvolvendo mecanismos de defesa contra o medo, a dor, a angústia. Sonhando, é possível descarregar a raiva sobre alguém de quem não gostamos, através de ações ou palavras violentas, sem precisar fazer isso de verdade.  A libido também aflora nos sonhos. Ali, pode-se beijar, abraçar, tocar e trocar intimidades com quem quer que seja (conhecidos ou não; famosos ou não; vivos ou não) . Nos meus sonhos, eu posso me situar em relações nas quais eu não caibo mais e também naquelas em que eu nunca coube...

Nenhum comentário: