quarta-feira, fevereiro 12, 2014

Predador de mim

Passou por mim um adolescente, absolutamente distraído, caminhando como um sonâmbulo, portando um headphone. Parecia não estar no mundo. Porém, não parecia inebriado pelo som da música. Apenas alheio e entediado. Podem dizer que "adolescente é assim mesmo" mas, independentemente da idade, as pessoas estão ausentes do mundo, cada vez mais distantes de viver inteiramente as experiências do momento. Numa situação comum ou extraordinária, há uma preocupação tamanha em registrar, através de uma câmera, que o viver aquele instante torna-se menor e desnecessário. Isso acontece também com turistas que, diante da possibilidade de se deleitar com imagens, cheiros, impressões sobre a cultura e tudo o que é diferente no outro lugar, preferem desesperadamente operar uma máquina, buscando o melhor ângulo, para postar as fotos nas redes sociais. Não é novidade que a tecnologia prende a atenção. Certamente, essa capacidade de ignorar o que está ao redor, acompanhou o advento da televisão, do cinema e demais demiurgos do mass media. No entanto, assistir um filme, e desligar-se do que está fora, pode significar uma catarse, um diálogo com as imagens, com o enredo e uma profusão de sensações, de emoções, de evocações do passado e de expectativas. Diferentemente, disparar flashes em ritmo frenético, produzir selfies (em que nem é preciso interagir com outro para clicar), nada mais é, nesse caso, do que um narcisismo vazio, um alheamento dos sentidos, em busca de prazeres meramente virtuais. A fotografia consolidou-se como instantâneo, um momento "congelado", capaz de fazer reviver o passado. No entanto, pode ser um instantâneo que se dilui imediatamente, uma imagem fugaz do que não foi interiorizado pela memória afetiva.