sexta-feira, fevereiro 01, 2013

Amor e outras alegrias

"Andei pensando certas coisas. O que é raro, dirão os irônicos. Ou 'o que foi?' - perguntariam os complacentes. Para esses últimos, quem sabe, escrevo. E repito: andei pensando sobre o amor, essa palavra sagrada. O que mais me deteve, do que pensei, era assim: a perda do amor é igual à perda da morte. Só que dói mais. Quando morre alguém que você ama, você se dói inteiro (a) - mas a morte é inevitável e, portanto normal. Quando você perde alguém que você ama, e esse amor - essa pessoa- continua vivo (a), há então uma morte anormal. O NUNCA MAIS de não ter quem se ama, torna-se tão irremediável quanto não ter NUNCA MAIS quem morreu. E dói mais fundo - porque se poderia ter, já que está vivo (a). Mas não se tem, nem se terá, quando o fim do amor é: NEVER."
Caio Fernando Abreu é, sem dúvida, um dos escritores mais interessantes da sua geração. Seus textos têm a força da profundidade. Nas palavras acima, o autor discorre sobre os extremos da paixão. Aquela que torna o outro mais importante do que nós mesmos, na perspectiva do amor romântico. Aquele amor de quem se anula, de quem passa a odiar o "objeto " de amor não correspondido, de quem mata "por amor". O amor eivado de paixão, enquanto afetação, perturbação, descontrole emocional.
Não por coincidência, o amor romântico surgiu no rastro das revoluções burguesas do século XVIII. A concepção de propriedade privada estendeu-se aos relacionamentos. O amor é menos uma questão de ser, do que de ter. Só se consuma na posse do outro, na necessidade de controlar, de prever, de julgar o outro, aquele a quem se ama. Fazendo a mea culpa, eu também já agi assim, já amei assim, já controlei assim...
Não sei se amor é prerrogativa de seres humanos ou se pensar assim é uma grande pretensão nossa. Imagino que um cachorro, que eu crio desde que nasceu, pode me amar, sentir minha falta e se alegrar verdadeiramente pela minha presença. Por isso até se permite dizer que alguns animais parecem pessoas...
Continuo acreditando no amor entre homem e mulher, entre homens ou entre mulheres. Mas acho que amar é a liberdade de estar com o outro no coração, independentemente da distância. Amor é possibilidade de pensar no outro e se encher de alegria pela troca que um dia existiu. A tristezinha da ausência é menor do que isso (ou poderia ser)...
Amor, como tudo na vida, é movimento ou, como dizem os budistas, é impermanência. Zeca Baleiro traduz isso como "nada permanece inalterado até o fim"... O problema é o nosso apego ao que é seguro, ao que permanece, ao que não surpreende com um fim abrupto ou com o final que se anuncia com o desgaste. A gente se limita às surpresas da moda, da tecnologia, das tramas cinematográficas. Na vida afetiva, elas não cabem.
Estou aprendendo a gostar das surpresas da vida. A viver na corda bamba e achar isso divertido. A abdicar das institucionices e rótulos que infligem aos relacionamentos. A conviver bem com a ideia de alguém que está eventualmente junto de mim, em termos de presença física, também está dentro de mim o tempo inteiro, através de sensações boas que me reportam a ele, em algo que escuto, que vejo, que toco ou que sonho. Isso é liberdade de viver e de amar! Sem cobranças, sem julgamentos, sem amarras e sem imposições. Amor pra sempre porque quem ama, não perde...  Nesse sentido, "o amor é mais forte que a morte..."