segunda-feira, outubro 24, 2011

Não dá pra resistir a...

Cappuccino com pão de queijo;

Milkshake de ovomaltine com calda de morango;

Água com gás (além de gelo e limão);

Cerveja com Carnaval de Olinda;

Sinuca com boteco;

Beijo na boca com whisky;

Perfume com suor;

Sexo com música de Janis Joplin;

Pé descalço com areia de praia;

Pink Floyd com pôr-de-sol na estrada;

Quando amanhecer


Música pra Bambam, que me faz sentir a (des)medida do que é importante:


"Quando amanhecer será

Para iluminar você

Vai anoitecer o dia

Se não vier

Mas se for presente

Tudo iluminará

Meu humor, meu coração

Como deve ser se

Ser como Deus quer for

Milagre, resignação

Roupa colorida

Alegrias às vistas,

Indecência, indiscrição

Seu cheiro me achando

Minh’alma perdida

Direi que é céu no chão

Quando anoitecer será

Para lhe fazer dormir

Estrelas que nem brilhantes

Para lhe vestir

Vai saber que Deus fez

As damas da noite

Preparando o seu buquê

Como vai dizer não

Se tudo o que eu vejo

Está aqui pra lhe servir

A mais bela roupa

Roupa de ir à festa

Coloquei pra lhe esperar

Disco na vitrola

Uma vela acesa

E a lua mais cheia

Quando o sol nascer será

Para desenhar você

Ou será você que virá

Pro sol nascer."

quinta-feira, outubro 06, 2011

Não por acaso, assista!

Uma passada despretensiosa na locadora rendeu bem. Três bons filmes. O primeiro, uma indicação confiável: O Homem que Desafiou o Diabo. Divertido e criativo. Uma viagem inusitada (e bem-humorada) pela cultura sertaneja, acrescentando ingredientes pitorescos como o cabaré, o paladar (inclusive sexual), a honra, a desonra, picarices, coloquialismos, medievalismos armoriais, lirismo e ternura. Além de botijas, um Preto Velho, espíritos e o “chifrudo” em pessoa. Aliás, boa interpretação de Marcos Palmeira que conseguiu disfarçar o sotaque carioca e convencer o público (leia-se eu), na pele de Ojuara. A espevitada Dualiba consolida o talento de Lívia Falcão e tem até uma participação imperdível de Otto. Hélder Vasconcelos faz até a gente gostar do Capeta franzino, irreverente e carismático que ele interpreta.

O segundo, Mãos que Curam, produção espanhola, fala sobre um médico “bestializado” pela profissão, que abdicou da sensibilidade no trato com seus pacientes, até se deparar com um momento de perdas e reflexões. Uma situação extrema reverte a sua postura e leva-o a reavaliar sua vida e sua profissão. O filme é tocante por retratar o dia-a-dia dos pacientes, as perspectivas ou a falta delas, as doenças do corpo e da alma e a capacidade humana em ser solidário.

O terceiro é um filme especial. A sinopse me chamou atenção embora ainda não tivesse ouvido falar dele... O fato de ser uma produção da O2, de Fernando Meireles, dá credibilidade à película, daí não hesitei em locar. Boa surpresa! Gosto de enredos em que as vidas se cruzam sem obviedades e sem que os envolvidos percebam diretamente, numa trama inteligente e plausível. Na primeira parte, acompanhamos a vida de Ênio, um funcionário da companhia que regula o tráfego de veículos em Sampa. Um homem solitário, reservado, cuja rotina é monótona. Ele desempenha bem o trabalho, percebe o trânsito com propriedade e até teoriza sobre o assunto ao relacionar o fluxo das vias com a termodinâmica dos fluidos (!). Essa parte chega a ser poética (uma poesia quase crua)... Apesar de conviver com o controle do trânsito, com a cadência dos semáforos, com a logística dos setores imaginários que esquadrinham o perímetro urbano, Ênio não administra bem a sua vida pessoal. Não sabe lidar com seus sentimentos, não sabe demonstrar afeto, não é espontâneo. Teve uma filha que não conhece e um amor perdido no tempo. Aliás, a vida dele parece ter parado no tempo e o movimento é alheio, resumido aos monitores do tráfego urbano, ao qual ele se debruça em praticamente todos os seus dias. Após um acidente de trânsito (ironicamente), a vida dele toma outro rumo.

O ambiente do filme é retrô. No começo, é difícil localizar em que época se passa. Uma São Paulo frenética, alterna-se com a cidade do fim de semana, em que as ruas são liberadas para o lazer, para caminhar, andar de bicicleta, de skate, enquanto os carros desaparecem. Uma cidade moderna abriga apartamentos que remetem a um outro tempo, com tubulações de ferro, assoalhos de tacos e muito espaço interno. Realidade que às vezes a gente até esquece, quando se depara com os cubículos de hoje.

Noutra parte da história, conhecemos Pedro e Teresa. Apaixonados e prestes a morarem juntos. Pedro é lacônico, reservado e também “respira” seu trabalho, porém, ele gosta muito do que faz, trabalha com prazer, é afetuoso, doce e passional. O mesmo acidente causa uma reviravolta na sua vida, um sofrimento mudo que o transfigura. Até que ele conhece Lúcia...

Ênio e Pedro têm qualificação técnica. No entanto, o primeiro reproduz as diretrizes de um sistema, que está acima dele (num certo momento ele usa o sistema a seu favor), enquanto Pedro desenvolve um trabalho quase artesanal que envolve criação, harmonia e beleza. Ele sente a matéria-prima, toca e lê as formas, numa perspectiva lúdica.

Último ponto: trilha sonora irretocável. Além dos sambinhas de Sampa, destaca-se a música cujos versos arrematam o filme: Eu não tou à toa nesse mundo/Eu tou pra tudo/Só vou deixar meu coração/A alma do meu corpo/Na mão de quem pode...