sábado, julho 31, 2010

A mesa e a estrada


Desde que cheguei em Petrolina, tenho feito diariamente uma viagem sentimental pelo Sertão. Tenho ascendência sertaneja mas esse universo sempre foi distante, só de ouvir falar nos "causos" que os meus pais contam... Primeiro, a comida (divina!)... E ter Petrolina, de um lado, e Juazeiro, do outro, é um deleite só! Aqui descobri uma tal de pititinga, que é uma espécie de piaba, servida frita e levemente empanada, acompanhada de uma pimentinha baiana, caseira e fresquinha... Um petisco de comer rezando, como se diz. Cari com molho de manga e castanha: manjar dos deuses! Aliás, dizem que o cari é um peixe horroroso de se ver mas muito gostoso, como já comprovei (embora ainda não tenha visto o dito cujo). Tem até uma receita de cari com mandacaru que, infelizmente, ainda não provei... Resumo da ópera: engordei uns quatro quilos desde que vim morar na terra das carrancas.
Fiz um rallyzinho dos sertões também: fomos eu e outro professor pra fazer inscrições e entrevistas pro processo seletivo do IFSertão, em distritos de Petrolina e cidades circunvizinhas. Enfrentamos quilômetros de estrada de barro, no meio da caatinga, levantando muita poeira,num cenário de descobertas pra mim. A diversidade do bioma é impressionante! Tive ainda o prazer de ver uma revoada de jandaias, casinhas de taipa, perdidas no meio do nada, bodes, vacas e outros bichos, na tranquilidade de seu habitat. Natureza a perder de vista!
Nessas andanças, conheci a Barragem de Sobradinho e, a despeito da interferência humana, é um assombro de beleza. Conheci também um pequeno povoado, chamado pitorescamente de "Atalho", resumido a uma rua com uma dúzia de casas de cada lado, uma escola, uma bodega, uma borracharia e muita gentileza. Uma das moradoras, sabendo da nossa chegada, ofereceu um almoço dos melhores que eu já comi: feijão de arranca, arroz, saladinha, macarrão e uma galinha caipira (de babar de tão boa que era). Só de lembrar da comida, dá vontade de voltar lá... Além disso, aquela casinha, cuja porta abriu-se com tamanha boa-vontade e aquele tratamento caloroso, a gente raramente encontra...

Queimadinha de radioatividade!


Numa entrevista recente, em série especial de telejornal, sobre os malefícios do álcool, Ângela Ro Rô declarou que não bebe nada mais, exceto água. Mesmo nas tertúlias, só entra esta bebida. Fiquei boquiaberta! Logo ela que era o baluarte do exagero etílico, que tantas vezes deu vexame, por estar embriagada nos shows e em outras ocasiões. Nenhuma recriminação aqui, vale ressaltar. Sempre admirei muito esta figura, pela sua sinceridade, por admitir suas bebedeiras, suas preferências sexuais, e por combater a hipocrisia. Segundo ela, a abstinência é voluntária, não precisou de tratamento algum, só que ela cansou de exagerar na dose, de enfrentar ressacas homéricas (do corpo e da alma) e da amnésia que acompanhava os porres.
Eu já bebi muito ao som de Ângela, gostava (e gosto) das músicas de "fossa". Letras que falam de dor, de frustração amorosa, de desencanto mas que não são um convite pra se matar (por isso não gosto das músicas de Núbia Lafayette), mas pra levantar a cabeça, depois de roer o cotovelo. São músicas de superação: "tô fodida, bebendo, mas eu me recupero, viu?" (da dor e da ressaca). Hoje bebo quase nada porque minha tolerância à bebida despencou. Outro dia, pedi uma caipifruta e, no segundo gole, minha cabeça tava rodando. Cerveja? Se eu passo de três latinhas, tenho uma dor de cabeça da "disgrama" no outro dia... Pois é, bebedeiras são passado. Só nos resta um brinde... com água: "- Viva Ângela Ro Rô!".