sábado, abril 05, 2008

Decifra-me...


DIANTE DE TANTOS RASCUNHOS NÃO POSTADOS, RESOLVI MODIFICÁ-LOS E PUBLICÁ-LOS (APROVEITANDO MOMENTOS PASSADOS DE INSPIRAÇÃO):

Ela, angustiada, olhava o mar. A imensidão azul terminava, invariavelmente, no enigma do horizonte. Pensou sobre seu futuro. Sobre incertezas. Tudo o que sabia naquele momento era que, por mais que tentasse (e tentou!), não lembrava do rosto dele. A fisionomia daquele com quem tinha partilhado tanta intimidade fugiu-lhe. Até quando? Talvez nunca lembrasse. Seria melhor assim? Não tinha esquecido nada do que aconteceu. Mas tudo vinha à mente sem esse rosto. Desfez-se de todas as fotografias dele. Sua memória acompanhou seu ato. Bloqueou todas as recordações daquele rosto para o qual tantas e tantas vezes olhou...

Encontrara Heitor, pela primeira vez, cinco anos antes. Circulava pelos corredores de uma exposição fotográfica com uma amiga da faculdade. Resolveu ir ao banheiro. Quando fechou a porta do reservado, percebeu um barulho estranho. Tentou sair. Em vão. A fechadura tinha quebrado. Foi tomada pelo desespero. Suou frio ao perceber que não tinha como sair dali: as paredes laterais iam quase até o teto e a porta de vidro não suportaria seu peso.

- Malditos arquitetos! - praguejou.

Lembrou que tinha deixado a bolsa com Suzana e não poderia usar o celular. Desesperou-se ainda mais porque o espaço cultural iria fechar dali a pouco tempo. Respirou fundo e gritou. Com todas as suas forças. Nada! Continuou gritando, por um tempo que pareceu eterno. Ouviu uma voz, bem longe, perguntar: - Posso entrar? Ela respondeu sim, pedindo ajuda. Um homem viera para ajudá-la. Ela nem pensou no inconveniente desta situação. Apenas queria sair urgentemente dali...